Crítica | A conexão perdida e o download incompleto de "Geração Brasil":




Na noite desta sexta-feira (31), após quase seis meses de novela, TV Globo leva ao Ar, o último capítulo de “Geração Brasil”, às 19h.

Escrita por Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, com a direção de núcleo de Denise Saraceni e direção-geral de Nathália Grimberg e Maria de Medicis (que deixou a produção no meio do caminho), o folhetim, que tinha tudo para ser um sucesso de crítica e audiência, como o “Olhar na TV” apostou, infelizmente, sai de cena como um completo desastre.

“Geração Brasil” começou com o pé direito, empolgante, cheia de adrenalina, belas paisagens, bons atores, trilha e cenário, o que segurava o texto ousado e diferente do habitual. No entanto, começou a se perder a partir do segundo mês de exibição até se tornar um fiasco total.

A abertura da produção foi muito bem trabalhada, onde conectava as cidades brasileiras uma com as outras, e com o mundo, através da tecnologia, tema central da história. O logo da novela, que gerou polêmica política e foi uma grande dor de cabeça para a emissora, parece que já previa os problemas que o folhetim enfrentaria.

“País do Futebol”, de MC Guimé, hit que ultrapassou mais de 40 milhões de visualizações na internet, foi um grande acerto da direção musical, que marcou um golaço ao escolher uma música que é a cara do povo brasileiro: um som alto-astral e vibrante.

O mesmo, diga-se de passagem, da trilha sonora, mesmo as músicas poucos executadas a ao longo dos capítulos, “Geração Brasil” reuniu bons novos e velhos hits.

Destacou-se em meio a toda esta turbulência a fotografia, muito bem ajustada às externas, bem como aos vários stock-shots (cenas sem a presença de elenco - geralmente paisagens). Outro ponto positivo foi a boa combinação da iluminação, bem equilibrada entre a luz ambiente e a luz artificial.

No começo, a trama trouxe uma edição ágil, em meio a uma narrativa direta, clara e objetiva, sem rodeios, o que permitiu o telespectador ficar se interessar por cada capítulo. Uma boa sacada misturar cenas com efeitos especiais e de computação gráfica. A produção faz clara inspiração ao seriado “24 Horas” (FOX) e ao filme “Sem Escalas” (2014), onde caracteres apareciam na tela durante as sequências. Moderno e se manteve até o fim!

Na crítica de estreia, o “ONTV” alertou para a sonorização de dois personagens. ‘Shin-Soo’, de Rodrigo Pandolfo, que trazia um agudo meio estridente, e ‘Pâmela’, de Cláudia Abreu, que trazia um timbre fino, porém agudo. A equipe de som soube contornar os erros e nivelou o tom na edição.

A maquiagem usada nos atores, de uma maneira geral, foi acertada. Destaque negativo para a personagem ‘Verônica’. De pele negra, Taís Araújo aparecia com o rosto esbranquiçado em algumas cenas. Os cabelos se mantiveram do começo ao fim de acordo com o perfil (estilo) de cada personagem.

Quanto ao figurino e acessórios, brilho é a palavra que mais definiu as roupas que foram apresentadas ao longo da história. Elegantes, descolados, ousados e espalhafatosos são adjetivos que melhor classificam as peças dos personagens. Destaques para os luxuosos vestidos de ‘Pâmela’, a elegância de ‘Jonas’, e a extravagância de do guru ‘Brian’ e do repórter ‘Shin-Soo’.

A cenografia foi muito bem explorada em todos os núcleos de “Geração Brasil”, d aloja do Barata, passando pela Plugar, até à Marra. Designs bem arrojados embelezaram o visual das cenas.

O folhetim tinha bons ingredientes para virar febre, lançar tendência e moda. A tecnologia virtual estava visualmente gratuita na TV. A Marra teve seu logo (a abelhinha) ‘voando’ em lojas e ambulantes por todo o Brasil. Além da interatividade na internet, com programas de TV no site, o uso de bordões ‘Marra Man’/’Marra Woman’ e palavras em inglês.

A novela teve a competência mais que infinita de Denise Saraceni em escalar um elenco bom. Cada ator, visivelmente, deu o seu melhor na composição de seus personagens. Todos apareceram em cena, e de alguma maneira, chamaram a atenção e exalaram um “eu fiz a minha parte e dei o meu melhor”.

Se estranha até aqui, que todas essas observações tenham sido positivas, né? E o porquê de “Geração Brasil” ter sido um grande insucesso? Simples: os autores, da mesma “Cheias de Charme” (2012), se perderam e não souberam conduzir o folhetim a partir do momento em que dois grandes eventos chegavam ao Brasil – Copa do Mundo e as Eleições. Os dois momentos foram os grandes vilões da história.

“Geração” começou a perder a linha a partir do momento em que o Brasil começava a respirar a Copa. A criação de um ‘reality show’ para “escolher o sucessor de ‘Jonas’” deixou a história arrastada, chata e fez com o que público perdesse o interesse. Nos dias de jogos, era exibida apenas por cerca de 5 a 10 minutos, em outros, nem isso ou não ia ao Ar.

As histórias, da central às paralelas, foram se tornando piegas e surreais, mesmo que uma novela seja ficcional. O caminho do humor foi a arma utilizada pelos autores para resgatar o público e se sustentar na audiência. Deu errado! “GB” se tornou banal e mostrou excelentes atores em papeis ridículos. Exemplos de Lázaro Ramos como ‘Brian’, Rodrigo Pandolfo, o ‘Shin’, Renata Sorrah, a ‘Gláucia’, Luiz Miranda, como 'Dorothy'. e muitos outros.

“Geração Brasil” sai de cena, inacreditavelmente, como a pior novela da história da TV Globo na faixa das 19h, tendo marcado apenas 19 pontos de média, quando que para a faixa, em áureos tempos, girava na casa acima dos 30 pontos. A trama ainda conseguiu ser pior que “Além do Horizonte” (2013), antecessora no horário.

Não vai deixar saudades em ninguém!

por Fa Marianno (@Famarianno)

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