Crítica | “Pecado Mortal” - a novela cujo único pecado foi ter sido na Record:




Contratado a peso de ouro, o autor Carlos Lombardi, ex-TV Globo, fez a sua estreia na teledramaturgia da TV Record com a novela “Pecado Mortal”.

Com as colaborações de Emílio Boechat, Nélio Abbade, Margareth Boury e Renê Belmonte, o folhetim contou com a direção-geral de Alexandre Avancini e sua equipe.

Ambientada na década de 70, a novela apresentou uma abertura bastante criativa, ao compor sua vinheta utilizando-se de seus atores como vitrines vivas, e em situações que narraram os rumos de seus personagens.

A trilha sonora escolhida para o folhetim foi de extrema qualidade. Mérito dado a competente a direção de Daniel Figueiredo, que selecionou um repertório primoroso, muito bem pesquisado e apropriado para e sobre a época em que se passava a história. O tema de abertura, "Street Life", do The Crusaders, foi uma excelente escolha.

Dita como a nova superprodução da Record, “Pecado Mortal" mostrou que realmente a sua produção foi de cinema! Destacou-se com uma boa direção e edição, onde retratou com clareza as épocas em que as fases se passaram, bem como a identificação visual e nominativa dos personagens.

A edição foi um ponto à parte. De maneira ousada, se colocou cenas de ação com efeitos de slow motion (câmera lenta) e, seguidamente, a continuação da cena volta à agilidade. Perfeito! Pecou levemente na duração de alguns capítulos, deixando-os longo demais.  

A boa direção ficou explícita em todas as cenas de ação, que brindaram do começo ao fim da narrativa. Brigas entre máfias e o "bem x mal" mostraram que a história teve gás ao longo desses oito meses.

O folhetim trouxe uma bela fotografia, tanto quanto nas cenas com elenco, quanto em stock shots (imagens sem a presença de elenco), que por sinal, não teve um uso abusivo, como é comumente usado em diversas novelas brasileiras.

O excelente texto de Lombardi foi bem esmiuçado e não pairou qualquer dúvida sobre o porquê de cada personagem agir de tal maneira. Entre cenas de ação, romance e mistério, o autor não deixou de acrescentar pitadas de humor. O "teatrinho" entre os personagens protagonistas foi sensacional.

Ainda quanto ao texto, Carlos Lombardi “quebrou” o habitual das novelas da Rede Record. Abusou de cenas de sensualidade, strip-tease, corpos desnudos e indicação ao sexo. Também abordou a máfia italiana, bandidagem nos morros, jogos ilegais, drogas e doenças maléficas da época. Assuntos estes, até então, jamais bastante explorados pela emissora.

A pesquisa de maquiagem, cabelo e figurino foi muito bem pontuada. Resultados maravilhosos, tanto na época de 41 (primeira fase) como na de 77. Cores, adereços e as tonalidades de pele em um Rio de Janeiro "quente" e agitado, bem como os sangues e machucados da violência, se fizeram presentes na composição dos personagens. E o que dizer dos penteados? Um show do cabeleireiro Marcos Padilha! Quem acompanhou a trama, certamente reviveu a época.

Quanto à cenografia, tudo bem detalhado e condizente com a narrativa de cada época. Um luxo os carros arrumados para embelezar o ano de 77. Tudo muito perfeito, de alto padrão e qualidade! Também ponto para os pequenos elementos cenográficos, como uma garrafa de bebida, muito semelhante ao design da época.

Em suas cenas iniciais, a iluminação deixou a desejar. No entanto, e de maneira correta, a produção soube ajustar os pontos de luz e deixar os estúdios em harmonia. A sombra deu lugar ao brilho!

Em meio a um elenco totalmente bem dirigido, todos cumpriram suas missões dadas pelo mestre Lombardi. Mas os maiores destaques da trama foram Maytê Piragibe e Jussara Freire (‘Ana Vêneto’), Fernando Pavão (‘Carlão’), Gracindo Jr. (‘Cebolão’), Denise Del Vecchio (‘Das Dores’), Paloma Duarte (‘Dorotéia’), Gustavo Leão e Mário Gomes (‘Getúlio Amado’), Mariah Rocha (‘Helena’), Carla Cabral (‘Laura Escobar’), Juliana Didone (‘Leila Vergueiro’), Tatyane Goulart (‘Livia’), Mel Lisboa (‘Marcinha’), Henrique e Luiz Guilherme (‘Michelle’), Sônia Lima (‘Norma Shirley’), Felipe Cardoso (‘Otávio Vêneto’), Simone Spoladore (‘Patrícia Salgado’), Cláudio Heinrich (‘Paulo Noronha’), Iran Malfitano (‘Pedro Noronha’), Vitor Hugo (‘Picasso’), Marcela Barrozo e Betty Lago (‘Stella Nolasco’), Van Gogh (‘Heitor Martinez’), Gabriela Moreyra (‘Antônia’) e André Ramiro (‘Mineral’).

O único pecado de “Pecado Mortal” foi a novela ser exibida pela TV Record. A emissora não tem o menor respeito pelos seus telespectadores (muito por conta de colocar gente da Igreja, e que nada entende de televisão, em cargos no canal), mudou o horário de exibição do folhetim, que inicialmente começou às 22h30 e agora vai ao Ar 21h 15. Isso claro, em termos de grade, pois na realidade nunca começa pontualmente.

Outra questão que justifica o título desta crítica é a falta de pulso e organização de sua diretoria. Faltou um controle rígido da emissora sobre o caso da atriz Mel Lisboa, que abandonou a trama para estrelar um espetáculo teatral, atrapalhando os trabalhos de e o rumo da história de Carlos Lombardi. Sem falar na retirada do diretor Alexandre Avancini para cuidar de outra novela, que acabou sendo adiada para 2015.

Não à toa, a produção não foi bem em audiência e marcou médias entre 4 e 5 pontos, chegando a 3 pontos em algumas ocasiões, mas tendo esboçado reação em sua reta final, onde marcou entre 7 e 9 pontos. Mas tudo muito longe dos 11 pontos de estreia e 13 de pico. Na média geral, a novela ficou com 6 pontos.

A contratação de Carlos Lombardi, no entanto, se fez um achado para a TV Record. Aparentemente livre, o autor criou uma excelente obra, e sem desmerecer os demais autores, a emissora precisava de Lombardi.

por Fa Marianno (@Famarianno)

Fotos: Reprodução/Record.

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