Crítica – Até Sílvio Santos embarcou no “Carrossel”:




Alheio à sua vontade e gosto, muito mais por conta dos resultados obtidos no decorrer dos últimos anos no segmento, o empresário Sílvio Santos, junto ao SBT, resolveu apostar no remake brasileiro da novela “Carrossel”, um grande sucesso da década de 90 no canal com o original mexicano.

Na noite do dia 21 de Maio de 2012, a emissora da Anhanguera exibia o primeiro capítulo da versão brasileira do folhetim. A trama, adaptada por Íris Abravanel e dirigida, inicialmente por Del Rangel e, posteriormente, por Reynaldo Boury, superou as expectativas e surpreendeu elenco, direção, autora e até mesmo o patrão.

Muito anunciada e cercada de uma produção bem trabalhada, o folhetim registrou em seu primeiro capítulo média de 13 pontos no IBOPE (Grande São Paulo), índice bastante comemorado pelo canal paulista, tendo em vista a raridade em se alcançar dois dígitos há algum tempo. De lá para cá, a trama sempre ficou na vice-liderança de audiência, e acima dos 10 pontos de média.

Em um determinado momento, mais precisamente no dia 27 de Agosto, o fenômeno “Carrossel” voltou a incomodar a TV Globo, como assim aconteceu com a versão mexicana nos anos 90. A trama de Abravanel chegou a picos de 18,4 pontos contra 24 do badalado “Jornal Nacional”. Em termos de média, o recorde foi de 15 pontos.

Ao longo dos seus 310 capítulos, o que representa 1 ano e 2 meses de exibição, “Carrossel” apostou em uma trama infantil em pleno horário nobre, o que foi bastante positivo e deu certo. Repleta de situações, como amor, amizade, coleguismo, racismo, dramas familiares, enfim, o folhetim fez jus à sua proposta: “juntar a família brasileira”!

A abertura da novela, muito bem produzida ao inserir um criativo trabalho de animação, permitiu os telespectadores reviverem (para os que acompanharam a trama original) e a cantarem o famoso hit: “Entre duendes e fadas, a terra encantada espera por nós. Abra o seu coração, na mesma canção, em uma só voz... Embarque neste carrossel, onde o mundo faz de conta, a Terra é quase o céu...”, muito bem remixado pela direção musical, como assim bem interpretado por Yudi Tamashiro (hoje, ‘peão’ de “A Fazenda 6” da TV Record) e Priscilla Alcântara.

A iluminação utilizada ao longo de toda a trama, inacreditavelmente, foi a melhor e praticamente a única acertada até então pelo SBT. Tudo muito bem ajustado em meio às diversas cores que foram espalhadas em todos os cenários, em especial o da Escola Mundial.

A fotografia não teve um grande destaque na obra. Poucos recursos de stock-shots (imagens sem a presença de elenco) foram utilizados na trama. Ao invés da utilização de paisagens/pontos turísticos da cidade de São Paulo, optou-se, por uma maioria, na colocação de inserts animados como um Sol (representativo do amanhecer) e a Lua (representativo do anoitecer). Quanto à utilização do recurso em estúdio, nada mais do que o cumprimento da função.

Por falar em cenografia, todo o material utilizado em estúdio foi muito bem apurado e adaptado à realidade, através da inclusão da tecnologia e novos designs de acessórios, móveis e elementos do dia a dia.

Outro ponto que chamou a atenção em “Carrossel” foi quanto à maquiagem. A produção teve todo o cuidado de não descaracterizar a imagem infantil das crianças e conseguiu dar um tom neutro às personagens. Os atores mirins, em especial as meninas, devidamente maquiadas sem exageros. Casou perfeitamente com a luz dos estúdios e levou ao ‘Ar’ um brilho fantástico.

O figurino, no entanto, fugiu da perfeição e foi uma dos problemas da novela. Os uniformes do fictício colégio, logo no começo da história, “sufocavam” as crianças e as cores não foram muito bem digeridas pelo público. Ficou feio no ‘Ar’! Além disso, somou-se o fato do crescimento fora do previsto em algumas crianças, o que deu a necessidade de renovação do figurino onde, além da troca de cores (passou do cinza para o amarelo com xadrez), deu-se uma repaginada na costura, deixando as peças mais leves. E claro, uma criação em estoque para casos de novos crescimentos.

Íris Abravanel soube se desenvolver e aprender com erros do passado, como em “Vende-se Um Véu de Noiva” (2009/2010) e “Corações Feridos” (2010, mas exibida em 2012), ao qual também as readaptou de tramas mexicanas. Em “Carrossel”, a autora não perdeu o fio condutor, o mote principal do original mexicano, e foi mais além, ousou, arriscou e acertou ao incluir novas tramas, personagens e o adaptar à atualidade brasileira.

Vale destacar a competente direção de Reynaldo Boury, que pegou a novela já iniciada nas mãos de Del Rangel, que deixou o trabalho, e fez com sua técnica e visão, um trabalho magnífico. Boury soube criar elementos que enriqueceram a história, afinou os detalhes de marcação do elenco às câmeras, o que possibilitou captações espetaculares das imagens, em especial aos planos fechados, nas expressões dos atores. E mais, soube trabalhar com as crianças e contornou muito bem os estrelismos provenientes dos pais de alguns.

A trilha sonora de “Carrossel” foi um achado! Além de sucessos da versão original, a trama do SBT ainda apostou em hits brasileiros com artistas como Marisa Monte e Chico Buarque, e mais, as próprias crianças do elenco soltando a voz em diversas faixas. Também houve a participação de apresentadores da emissora, como Yudi, Priscilla e Eliana.

Por falar na parte musical, esta foi o sucesso da emissora. A comercialização de CDs e DVDs do folhetim infantil ultrapassou a marca de 800 mil acessos. No mais, o canal ainda lucrou com diversos outros produtos licenciados, como álbum de figurinhas, bonecos, roupas, acessórios, etc. Uma febre!

“Carrossel” fez tanto sucesso nos quatro cantos do Brasil, que não surpreendentemente, parou em países como Angola e Indonésia. Segundo consta, novos países estão em vias de adquirir a produção que elevou a audiência do SBT, estagnada em baixos índices há alguns anos.

Outro fato do sucesso da trama é que, mesmo com o fim da novela, as crianças têm se apresentado em eventos e shows musicais pelo país. E, em breve, a trupe da Escola Mundial volta à TV em uma série animada chamada de “Patrulha Salvadora”, com estreia prevista para Outubro deste ano.

O sucesso das crianças na produção também viabilizou a participação de quase todos do elenco, inclusive o adulto (como Rosane Mulholland e Lívia Andrade), em diversos programas da emissora da Anhanguera, em especial o de Sílvio Santos, aos domingos. O patrão, enfim, se rendeu!

Por fim, quanto ao elenco, vale destacar a atuação de todas as crianças, mas em especial as de Larissa Manoela (‘Maria Joaquina’), Jean Paulo Campos (‘Cirilo’), Nicholas Torres (‘Jaime’) e Lucas Santos (‘Paulo’). Em relação aos adultos, pontos positivos para Rosane Mulholland (‘Professora Helena’), Lívia Andrade (‘Suzana’), Ilana Kaplan (‘Matilde’), Noemi Gerbelli (‘Olívia’), Fernando Benini (‘Firmino’) e Márcia de Oliveira (‘Graça’).

“Carrossel” certamente deixará saudades, mas o mundo encantado e de nostalgia continua em “Chiquititas”, que já se mostra um novo sucesso!


por Fa Marianno (@Famarianno)

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