Na
noite desta segunda-feira (07), a TV Globo estreou aquela que, de longe, já é a
maior ousadia da história da sua teledramaturgia: “Meu Pedacinho de Chão”.
Sob autoria de Benedito Ruy
Barbosa e a direção do competente Luiz Fernando Carvalho, o folhetim, logo na
primeira cena, e para os mais atentos, fez uma singela “homenagem” ao ‘reality show’ “A Fazenda”, da TV Record,
com o famoso galo cacarejando.
A nova versão da obra original de
1971 traz um universo paralelo, lúdico e infantil, com a total sensação de se ter
juntado “Alice no País das Maravilhas”, “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, “Castelo
Rá-Tim-Bum” e “Hoje é Dia de Maria”, com pitadas de cenas de faroeste, e batido
em um liquidificador.
A abertura de “Meu Pedacinho e
Chão” é a capa mais perfeita já produzida pela emissora carioca. O material,
repleto de animações, apresenta o conteúdo da fábula televisionada. O tema de
abertura, cantado por um coral com ares infantil, casou perfeitamente com a proposta
do projeto.
A trilha sonora, ao menos nesse
primeiro capítulo, se mostrou muito bem selecionada e aplicada às cenas. O
instrumental, do clássico ao lúdico, dominou em toda a produção. Talvez, e se
assim permanecer até o fim, a obra pode ficar bem mais interessante do que com
a simples presença de músicas cantadas.
A fotografia do folhetim, e obviamente,
com os toques de Carvalho, não poderia ser a melhor apresentada. Totalmente bem
enquadrada com a iluminação e, pela aptação das câmeras em alta definição,
todas as cenas exibidas saltaram uma beleza aos olhos dos telespectadores.
A maquiagem, figurino e os
cabelos, tanto dos homens quanto das mulheres, se mostra muito fiel aos contos
de fábulas. Sem tirar nem pôr, “Meu Pedacinho de Chão” inova e ousa com um
figurino exagerado, irreal, mas belo e criativo. Peças muito bem costuradas,
exóticas e com tonalidades vibrantes. As mulheres, por sinal, foram
transformadas em bonecas.
Chama a atenção à cidade
cenográfica e os elementos que compuseram as cenas exibidas no primeiro
episódio do “conto”. O cenário,
construído em um terreno de aproximadamente 8 mil metros quadrados, traz igreja,
comércio, as casas dos personagens e uma estação de trem, onde foram usadas
cerca de 20 toneladas de latas de tinta abertas, dobradas, cortadas,
pigmentadas, marteladas, planificadas. Uma verdadeira casa de bonecas.
Os animais de verdade deram
espaço a animais cenográficos e marionetes. O cavalo, por exemplo, será
representado por um cavalinho de carrossel, manipulado como uma marionete
gigante. Uma boa sacada que, a primeira impressão, deu certo. Destaque aos
coloridos das flores artificiais.
A edição foi outro ponto que
surpreendeu. Nas chamadas de estreia, deu-se muito a sensação que o folhetim
apresentaria uma narrativa lenta, cenas arrastadas, ou ainda, uma história de
um livro lida cercada de cuidados. Mas não, a produção, que inclusive trouxe cortes
em high motion, apresentou uma agilidade no texto ao destacar
quase todos os personagens e a cidade.
Uma situação clara que a novela
traz foi o fato de, mesmo visualmente apresentar um universo irreal e atemporal,
mostra que problemas sociais se fazem presentes. A briga pelo poder e o
esbanjar de status ficaram bem evidentes nos personagens. Proibir a inauguração
de uma escola e deixar o povo sem instrução é o jogo principal do Coronel, que
teme por uma população estudada que acabe com a sua tirania.
No primeiro capítulo de “Meu
Pedacinho de Chão”, os destaques em cena foram Geytsa Garcia (‘Pituquinha’),
Tomás Sampaio (‘Serelepe’), Paula Barbosa (‘Gina’), Juliana Paes (‘Maria
Catarina’), Osmar Prado (‘Coronel Epaminondas’) e Johnny Massaro (‘Ferdinando’).
Agora é de impressionar e tirar o
chapéu para Antônio Fagundes (‘Giácomo’) e Bruna Linzmeyer (‘Juliana’), que mal
saíram de “Amor à Vida” (2013/2014), onde interpretaram personagens complexos
e, rapidamente, já vestiram novos personagens, sem quaisquer indícios ou marcar
de ‘César Khoury’ e ‘Linda’.
“Meu Pedacinho de Chão”, em um
primeiro momento, pode proporcionar uma fuga dos telespectadores. Uma trama
ousada, inovadora e que causa um choque por fugir do habitual. No entanto, a
história tem tudo para resgatar a audiência do horário perdida ao longo dos últimos
anos, bem como trazer um novo público para a faixa: as crianças.
Na
audiência, o capítulo de estreia de “Meu Pedacinho de Chão”, segundo dados aferidos no IBOPE na Grande São Paulo, marcou apenas 19 pontos de média, com pico de 20 pontos. Um começo tímido.
por
Fa Marianno (@Famarianno).
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