Crítica: “Amor à Vida", a novela que salgou a Santa Ceia global!:




Com a dura missão de elevar a audiência do horário nobre, derrubada pela antecessora “Salve Jorge” (2012/2013), a TV Globo estreou na noite do dia 20 de Maio, a novela “Amor à Vida”.

Escrita por Walcyr Carrasco, em sua estreia na faixa das 21h, a trama contou com as colaborações de André Barros, André Felipe Binder e Marcelo Travesso, a direção de Mauro Mendonça Filho e a direção de núcleo de Wolf Maya.

Com uma história ágil, repleta de emoção, humor, tensão e suspense, o folhetim apresentou uma narrativa em ritmo de seriado, trazendo de volta o fôlego que a faixa horária tivera com “Avenida Brasil” (2012).

As tramas foram apresentadas de uma maneira mais real, fáceis de acreditar, e que, de certa forma, prenderam o telespectador à frente da TV. Quem perdesse algum capítulo, deixava de entender o que aconteceria adiante.

Temáticas fortes e polêmicas, como adoção de crianças por homossexuais, barriga solidária, HIV, traições, sequestro e abandono de bebê, suposto incesto, imprudência/erro médico, assassinatos, sexo na terceira idade, entre outros, repercutiram e mexeram com o país ao longo desses oitos meses.

Com toda a sua genialidade, Carrasco, porém, foi pego de surpresa quanto a um assunto que não estava previsto, e que caiu nas graças e torcida do público. Pela primeira vez, o Brasil torceu pela formação de um casal gay, e com direito a final feliz. ‘Félix’ e ‘Niko’ roubaram a cena, ganharam o carinho de homens, mulheres e crianças, e tiveram mais torcidas pra ficarem juntos do que o casal de protagonistas hétero. Sem falar sobre a expectativa do tão esperado beijo que rolou e fechou o folhetim!

No entanto, das histórias contadas, algumas cansaram pela “barrigada” e outras pela incredulidade de situações, até mesmo com inspirações em dramalhões mexicanos. A corrida pela fama e a saga de ‘Valdirene’ no “BBB”, o merchandising literário, a “virgindade”, a dieta e o “bigodinho” de ‘Perséfone’, o troca-troca entre ‘Sílvia’, ‘Michel’, ‘Patrícia’ e ‘Guto’, o fato de ‘César’ ter transado com “quase todo o elenco”, a sobrevivência de ‘Ciça’ à queda de um penhasco e a perda de memória de ‘Atílio’, que o fazia transformar-se em ‘Gentil’, estão nesses casos.

Já outros temas, muito por conta da presença de um elenco numeroso (fixo e participações), não tiveram um destaque que mereciam pela sua alta complexidade. O câncer de mama de ‘Sílvia’ e o HIV de ‘Inaiá’ poderiam ter sido melhores explorados. Sem falar do lúpus de ‘Paulinha’ e o alcoolismo de ‘Vivian’.

“Amor à Vida” contou com a presença de núcleos apagados, mal aproveitados. Pouco se viu a exploração de temáticas dentro do Hospital San Magno, em que a maioria dos casos vinha de fora para dentro. Outro destaque negativo foi o núcleo gospel, totalmente desnecessário e chato. E, por fim, o núcleo de ‘Nicole’, prejudicado pelo caso “Walcyr x Marina”.

Quanto à parte técnica, a abertura, com auxílio de computação gráfica hollywoodiana, usou e abusou de cores neutras em tom pastel, trazendo um o casal de bailarinos desenhado passeando por São Paulo, pano de fundo da novela. De negativo, a grafia de alguns atores escrita errada, do começo ao fim da produção.

O tema "Maravida", cantado por Daniel, foi um grande erro. Choveram críticas à versão cantada pelo sertanejo, que era recheada de ‘gritos’. Maria Bethânia, em sua versão MPB, teria se encaixado perfeitamente com o casal que “deslizava” pela capital paulista.

A trilha sonora, com músicas já conhecidas do público e lançando tantas outras, às vezes, não era combinada a determinada situação ao qual o personagem se encontrava. Em algumas ocasiões, nos encerramentos de capítulos, uma música era inserida fora do contexto.

O uso de stock shots (imagens de pontos e paisagens sem a presença de elenco) não foi tão explorado como em outras produções, mas nada que tenha comprometido a história. E olha que cenários não faltaram: Machu Picchu (Peru), Bolívia, Rio de Janeiro e São Paulo.

A captação das imagens gravadas no Peru e na Bolívia foi completamente diferente das filmadas em São Paulo, que apresentou direção e técnica melhor desenvolvida no Brasil. No quesito fotografia não houve um destaque grande, tendo esta se mostrado “morna” diante do que foi apresentado.

No começo da história, nas externas, os ângulos mais fechados se sobressaíram. Já em plano aberto, por várias vezes, as câmeras ora não acompanhavam os atores, ora os atores não as acompanhavam. Mas, ao passar dos capítulos e com a técnica mais apurada, o problema foi solucionado.

A iluminação apresentou alguns problemas no início do folhetim. Com pouco brilho e não atenuadas à maquiagem dos atores, ora se viu personagens com rostos esbranquiçados e pálidos (como em cenas no Peru), ou ora com sombras nos rostos. No estúdio, certas cenas se apresentaram às cinzas. Os erros, porém, foram corrigidos e superados nos meses seguintes.

Sensacional o uso da computação gráfica para retratar o fictício hospital São Magno, bem como a cenografia dos demais cenários. A riqueza de detalhes e, principalmente, as maquiagens usadas para retratar as tragédias, como as cenas do parto de 'Paloma', a morte de ‘Mariah’ e o esfaqueamento de ‘Ninho’. Destacaram-se também os efeitos especiais usados em cenas como as de ‘Nicole’ em sua fase fantasma, o acidente que matou ‘Glauce’ e desmemoriou ‘Atílio’ e o incêndio que matou ‘Leila’.

Uma ação que chamou a atenção e mereceu destaque foi quanto à passagem de tempo, aplicada de uma maneira "limpa" e “ágil”, que permitiu o telespectador voar com a história. A edição, por sinal, muito bem trabalhada, descartou o famoso "dias depois", "tempos depois". Uma jogada interessante, ousada e que deu certo.

O figurino foi bem adequado ao apresentar uma riqueza de cores, de bom gosto e caimento. As roupas e acessórios, na maioria usada pelo elenco feminino, viraram tendências e foram bastastes solicitadas na CAT da emissora. Vestidos, batons, esmaltes, anéis e bolsas estiveram entre os produtos mais procurados. Fora os cortes de cabelos e penteados.

Quanto ao artístico, com a sensação de dever cumprido, destacaram-se os trabalhos de Susana Vieira (‘Pilar’), Antônio Fagundes (‘César’), Eliane Giardini (‘Ordália’), José Wilker (‘Herberth’), Klara Castanho (‘Paulinha’), Marcello Antony (‘Eron’), Caio Castro (‘Michel’), Carol Castro (‘Sílvia’), Bárbara Paz (‘Edith’), Thalles Cabral (‘Jonathan’), Rosamaria Murtinho (‘Tamara’), Ary Fontoura (‘Lutero’), Luís Mello (‘Atílio’), Fúlvio Stefanini (‘Denizard’), Nathália Timberg (‘Bernarda’), Júlio Rocha (‘Jacques’), Sandra Corveloni (‘Neide’), Genézio de Barros (‘Amadeu’), Emílio Orciollo Netto (‘Murilo’), Neusa Maria Faro (‘Ciça’), Bel Kutner (‘Joana’), Mouhamed Harfouch (‘Pérsio’), Paula Braun (‘Rebeca’), Renata Castro Barbosa (‘Marilda’), Angela Rebello (‘Lídia’), Sophia Abrahão (‘Natasha’), Raquel Villar (‘Inaiá’), Angela Dip (‘Vivian’), Celso Bernini (‘Jefferson’), Felipe Titto (‘Wagner’), Lucas Romano (‘Luciano’), Adriano Toloza (‘Ivan’), Marcelo Schmidt (‘Valetim’), Marcelo Flores (‘Rinaldo’), Vera Zimmermann (‘Simone’), Lúcia Veríssimo (‘Mariah’), Gabriela Duarte (‘Luana’), Márcio Garcia (‘Guto’), Carlos Machado (‘Ignácio’), Francisco Cuoco (‘Rubão’), Angela Rabelo (‘Eudóxia’), João Cunha (‘Jonas’) e Dani Vieira (‘Ellen’).

Já Françoise Forton (‘Gigi’), Pierre Baitelli (‘Laerte’), Álamo Facó (‘Renan’), Cristina Mutarelli (‘Priscila’), André Garolli (‘Vinícius’), Francine Mello (‘Karina’), Daniel Rocha (‘Rogério’), Carol Rainato (‘Raquel’), Camila Czerckes (‘Camila’), Marcelo Argenta (‘Vanderlei’), Josie Antello (‘Adriana’), Vera Ferreira (‘Sirlange’), Renata Tobelem (‘Dirce’), Ana Carbatti (‘Judith’), Gabriel Chadan (‘Adoniran’), Camila Chiba (‘Noriko’), Cassiano Barreto (‘Ailton’), Thavyne Ferreira (‘Sandra’), Vera Mancini (‘Maristela’), Sidney Sampaio (‘Elias’), Gláucio Gomes (‘Pastor Efigênio’) e Miriam Lins (‘Verônica’) não foram bem aproveitados na história, e seus personagens foram apenas figurantes de luxo e/ou apoio.

Por sua vez, Juliano Cazarré (‘Ninho’), Ricardo Tozzi (‘Thales’), Fabiana Karla (‘Perséfone’), Rodrigo Andrade (‘Daniel’) e Carolina Kasting (‘Gina’) foram prejudicados em suas atuações por conta da chatice e volubilidade do perfil/caráter de seus personagens. Se o público se confundiu, os atores mais ainda. Não à toa, Juliano, Ricardo e Rodrigo questionaram seus personagens junto à Walcyr.

Christiane Tricerri (‘Vega’), Kayky Gonzaga (‘Jaiminho’) e Lucas Malvacini (‘Anjinho’) não expressaram emoção alguma, e em momento algum, junto ao público. Tricerri, sempre com uma atuação analasada, sussurrava em todas as cenas. Já á Kayky faltou carisma e um mínimo de técnica, como não olhar para a câmera. Lucas, por sua vez, tem uma imagem boa; imagem boa!

O folhetim ainda teve Marina Ruy Barbosa (‘Nicole’), um capítulo a parte. Com um começo tímido, a atriz se viu no olho do furacão ao se envolver em uma polêmica com o autor, onde, supostamente, haviam combinado que ela rasparia a cabeça por conta do câncer de sua personagem. Ruy Barbosa bateu o pé, supostamente para não perder um contrato milionário com uma empresa de cosméticos, que não o fez. Resultado: ‘Nicole’ morreu! Para não ficar feio e soar como “vingança”, a personagem virou “fantasma” e ficou muitos capítulos sem aparecer ou falar nada. Com isso, todo o núcleo da então órfã rica ficou prejudicado: ‘Thales’, ‘Lídia’, ‘Leila’ e ‘Rogério’ foram vítimas de ‘Nicole’. Entrou ‘Natasha’, que não resolveu o problema, mas também não prejudicou.

Os protagonistas Paolla Oliveira e Malvino Salvador deixaram a desejar. Além de uma trama resolvida no meio do folhetim, deixando os personagens sem história entre si, a dupla de atores parece que vem perdendo a dramaticidade. Paolla cansou com a insossa mocinha, sempre sofrida, ingênua, boba. Já Malvino “chorava pela testa”. Com certeza um tempo no teatro pode reavivar e até desenvolver certas técnicas cênicas.

Os grandes nomes de “Amor à Vida”, e que fizeram seus papeis crescerem e terem mais destaque que os protagonistas, são Elizabeth Savalla (‘Márcia’), Tatá Werneck (‘Valdirene’), Vanessa Giácomo (‘Aline’), Fernanda Machado (‘Leila’), Thiago Fragoso (‘Niko’), Danielle Winits (‘Amarilys’), Maria Casadevall (‘Patrícia’), Anderson Di Rizzi (‘Carlito’), Maria Maya (‘Alejandra’), Kiko Pissolato (‘Maciel’) e Rainer Cadete (‘Rafael’). Dentro da história e núcleo de cada um, souberam aproveitar o “cavalo” e “montaram em cima”. Deram show de acordo com o perfil/texto que lhes foram apresentados.

Por fim, dois atores, do mesmo núcleo familiar, mas com diferentes tramas, se destacaram e, diante do olhar de cada história, souberam conduzir seus personagens e render muito mais do que o esperado pelo próprio autor: Bruna Linzmeyer (‘Linda’), que teve uma construção maravilhosa, cheia de pesquisa, e fora a concentração do “transe” para dar via a autista.

E Mateus Solano, claro, que carimbou seu passaporte para o ‘prime time’ da Rede Globo. Um vilão, gay, que mudou de personalidade com o passar da história, chegando a momentos de pieguices, conquistou o público e se tornou um anti-herói amado por todos. E mais: Solano é o responsável por “acordar” o Brasil contra o preconceito e fazer, pela primeira vez na história da teledramaturgia, o país rir, se emocionar e torcer pela formação de um casal homossexual e por um beijo gay em pleno horário nobre do canal.

A novela, com certeza, “salgou a Santa Ceia”. Um turbilhão de acontecimentos mexeu com a produção e o elenco do folhetim. Brigas, insatisfações, alterações do rumo de histórias, desentendimento em redes sociais e a insatisfação e críticas de órgãos e profissionais que se autojulgaram prejudicados em algumas cenas. No entanto, pela primeira vez depois de mais de um ano, o “Oi Oi Oi” (“Avenida Brasil”) deu espaço ao “Vida Vida Vida” e aos memoráveis bordões de ‘Felix’.

“Amor à Vida” chegou ao fim cumprindo a missão de elevar a audiência do horário nobre da Rede Globo ao registrar média de 35 pontos. “Salve Jorge”, a antecessora, consolidou 34,3 pontos, e “Avenida Brasil” (2012), para efeito de comparação, teve 38,9 pontos (dados do IBOPE na Grande São Paulo). Como audiência recorde, o capítulo 217 registrou 48 de média, pico de 50 e 72% de share.

Só fica uma pergunta: qual a justificativa na história para o título da novela? Casou?

por Fa Marianno (@Famarianno)

Comentários

Anônimo disse…
Resposta para essa sua PERGUNTA FINAL: Assista o teaser e vc verá o por que de Amor à Vida se chamar Amor à Vida. O teaser dizia: São Paulo é a cidade em que o amor pode se manifestar de diversas formas, podemos ver o amor em sua forma mais sublime, mas também o amor ao poder, o amor ao sexo, o amor ao corpo, o amor a Fama, o amor ao Sucesso, o amor a Tudo, o amor a Nada,mas o que todos deveriam ter É AMOR À VIDA. AMOR À VIDA. O SEU NOVO AMOR DAS 9